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Mostrando postagens de abril, 2018

A rosa do povo: o indivíduo na modernidade

A rosa do povo : o indivíduo na modernidade Júlio César Suzuki [...] Essa viagem é mortal, e começá-la. Saber que há tudo. E mover-se em meio a milhões e milhões de formas raras, secretas, duras. Eis aí meu canto. (ANDRADE, 2002, p. 22) A modernidade imprimiu uma aceleração do tempo (BERMAN, 1986). A velocidade com que se dão os processos de deslocamento das informações, das pessoas, das mercadorias, bem como aqueles relacionados à dinâmica social, teve um aumento considerável, se levarmos em conta as necessidades temporais necessárias durante a Antiguidade e o feudalismo para situações similares, porém não idênticas. A modernidade impactou a constituição do indivíduo e de sua fragmentação, particularmente na cidade, o que se expressa densamente em A rosa do povo , de Carlos Drummond de Andrade. É no contexto de transformações temporais, marcadamente sociais, econômicas e políticas, que se constituem o indivíduo e a cidade moderna. Paradoxal é o quanto a definição do i

O Turista Aprendiz: desafios da crônica de Mário de Andrade

O Turista Aprendiz : desafios da crônica de Mário de Andrade Júlio César Suzuki Mário de Andrade, um dos grandes escritores brasileiros, à busca de sua brasilidade, deixou-nos uma obra imensa e diversa, em que poesia, conto e romance se misturam a livros importantes sobre cultura nacional, discutindo música, folclore, para os quais se valeu de ampla pesquisa de gabinete e em campo. Além de toda a variedade de gêneros e temas já referenciada, ainda inscreve-se a crônica como uma de suas possibilidades de expressão, sendo O Turista Aprendiz uma coletânea das mais importantes do artista. Marcado por duas grandes viagens etnográficas, O Turista Aprendiz é, também, um percurso subjetivo do narrador que preenche os textos com recortes do mundo pelo qual trafega, construindo-o ao sabor de sua solitária conquista. O percurso e o mundo vão se fazendo na viagem. A mesma da escritura das crônicas que compõem a obra, reunidas em forma de diário, definido como gênero híbrido, em que se

Os Cordeiros do Abismo: uma expressão da potência do romance goiano contemporâneo

Os Cordeiros do Abismo : uma expressão da potência do romance goiano contemporâneo Júlio César Suzuki “A dependência do ser humano em relação ao outro permanece até depois da morte. O amor é uma gaiola que aprisiona nossos sonhos inteiros, restando-nos somente sonhos divididos, vontades divididas. E qualquer iniciativa de se fazer uma opção inteira significa culpa [...]” (RIBEIRO, 2005, p.56) No contexto da produção literária em Goiás, a publicação do romance de estreia no gênero, de Maria Luísa Ribeiro, não produziu um impacto midiático ou de visibilidade de grande monta. Apesar de celebrado pela crítica nacional, é um livro mais temido do que lido. Porém, mereceu de Olival (2009), em O espaço da Crítica III , um capítulo específico intitulado A escritura da transgressão: Os cordeiros do abismo , publicado pela Editora UFG. Nele, a ensaísta observa que a escritora “[...] parece acompanhar uma tendência que mais vigorosamente se manifesta na literatura brasileir