Sociedade Fechada e Inexperiência Democrática


Resenha do Capítulo 2 (Sociedade Fechada e Inexperiência Democrática) do Livro “Educação como Prática da Liberdade”, de Paulo Freire.

Nas reflexões e avaliações elaboradas por Paulo Freire em seu ensaio Educação Como Prática da Liberdade, o autor expõe seu pensar de maneira minuciosa, contextualizando historicamente a proposta sobre a educação no Brasil e expondo seus pressupostos filosóficos e políticos.
No capítulo 2, Sociedade Fechada e Inexperiência Democrática, para compreender os desdobramentos da fase de transição, Freire resgata a história e as características do Brasil no período colonial e na fase do Império, esclarecendo a inexistência da participação popular, inclusive durante a passagem para a República.
O autor diz não ser possível entender a fase de transição mesmo com os avanços sem olhar o passado e ver as marcas presentes, pronto a florescer, a “inexperiência democrática”, e ausência das condições necessárias à criação de um comportamento participante.
É discutido que as condições estruturais não foram favoráveis para que fossem exercidas tais experiências; o Brasil cresceu em condições precárias, à base da exploração econômica, as terras em poderio dos senhores, gerando o trabalho escravo, tanto para os nativos quanto os africanos trazidos pelas cortes. Também segundo relatos da história estes senhores não vieram com intenção de popularizar e sim de fazer riquezas e voltar para seu país de origem; faltou-lhes encorajamento de fixar-se, “integração com a colônia”, ato que poderia ter dado outro rumo para o desenvolvimento do Brasil.
Mas quando houve condições de povoamento efetivo, sedimentou-se a desigualdade social; quem tinha maior poder, ficava com grandes partes das terras, com os engenhos, fazendas, concentração das riquezas para determinado grupo de pessoas. Com isto, o povo ficou à mercê de seus senhores, se submeteu, calou-se, se fechou para diálogo e deixou que seus senhores falassem por ele. Freire supõe que fica prejudicado o diálogo quando sob pressão, com domínio predominante autárquico e com a mente fechada, levando o povo a se submeter ás duras leis imposta pelos senhores. A distância social e a falta de diálogo implicam atitudes sociais e políticas do ser humano, num mínimo de consciência transitiva, pois não ocorre autogoverno sem diálogo.
Freire insiste em dizer que o (mutismo), ou seja, a ausência da necessidade de falar predominou no homem, faltou vivência comunitária; devido à solidariedade política do homem ao seu senhor, inexistiam condições de experiência. O autor vai além ao dizer que a circunstância imposta ao povo, impõe uma consciência hospedeira da opressão em vez de uma consciência livre e criadora, sendo por culpa das autoridades da época, que ocasionava a repressão.
O que caracterizou este período, desde o início, segundo Paulo Freire, foi a formação do povo brasileiro, que foi submetido a um poder exagerado, sempre associado à submissão, gerando ajustamento, acomodação e não interação; o autor afirma que o homem se acomoda com as regras as quais é submetido. As disposições mentais que se criaram nessas circunstâncias foram rigidamente autoritárias, formando pessoas acríticas. Essa foi à vida do povo brasileiro no tempo colonial, os colonizados estavam esmagados pelo poder dos senhores das terras, governadores-gerais, capitães-gerais, vice-reis e capitães-mores e quase sempre proibidos de ascender socialmente, e proibidos de falar.
O autor relata ainda um Brasil colonial regido por feudalismo; mesmo depois da Proclamação da República, com as fundações de escolas, imprensas, bibliotecas e escolas técnicas, não houve mudanças para o povo brasileiro. Pelo contrário, quem desfrutava destas "conquistas" eram os próprios filhos dos senhores, ou seja, a própria burguesia.
De toda esta repreensão, Freire fala que o que importa é que apesar de não haver experiência democrática, pode ter alguns aspectos positivos, entre eles seria a miscigenação, levando ao tipo “democracia étnica”.
A partir do século XX, após a primeira grande guerra e fortemente depois da segunda grande guerra, segundo Freire, é que houve um ímpeto popular, a voz do povo surgiu no Brasil. Com a nova democracia, houve grande desenvolvimento industrial, também, no campo da cultura, das artes, das literaturas, ciências e novas pesquisas, buscando assim um planejamento para um novo Brasil.
Freire acrescenta ainda que a democracia, antes de ser política, é forma de vida, caracterizada por forte dose de transitividade de convivência, baseada no comportamento humano, que antes de haver debates, haja um exame de seus próprios problemas, levando a uma atuação participativa.
Ao final do capítulo, Paulo freire fala que o Brasil começava a encontrar-se consigo mesmo, que iniciava experiências próprias de participações, superando a inexperiência vivida nos tempos de colônia, o que gerou os irracionalismos sectários iniciando um novo caminho dentro do processo.
Especialmente no último parágrafo, Paulo Freire faz uma observação de até onde poderia seguir essa linha do processo que parecia se revelar? Sem provocar formas mais graves de regressão e também de exploração maior.
Freire temia que o tempo de mutismo e inexperiência voltasse ao Brasil, mas os acontecimentos nestes últimos atos de protesto no dia (15/03/2015) ocorrido no Brasil, é visto que ainda estão reagindo contra uma má gestão política, que a voz do homem brasileiro está bem ativa contra qualquer ação que prejudique a população. Afinal como disse o considerado patrono da Educação Brasileira, “Educação não transforma o mundo, educação muda pessoas, pessoas transforma o mundo”. Era assim a esperança de Paulo Freire, deixava claro seu pensamento em relação à educação para o Brasil e por onde este passava.

FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. 32ª ed. São Paulo: Editora Terra, 2009.

Autora: Rosangela Batista Louredo, Graduanda em Licenciatura de Química - LQ2015.

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